Escrito por Maria Clara Batista da Silva
São Vicente é para mim como um pai no sentido mais simples da palavra, se isso for possível, onde só tem o papel mais efetivo na procriação, nos outros momentos se abnega da responsabilidade e é de uma parcialidade perene, que pouco se envolve na educação e na formação do caráter do filho, em vez de ensinar-lhes a refletir e a ter liberdade (política, religiosa) reprimi-o e não investe no futuro de sua prole. Mas então tenta compensar, como se fosse possível, presenteando com algumas festas e o filho resignado e contente se submete pelas migalhas de "amor" do pai.
O triste é que não estou sendo pessimista, mas realista, e em conseqüência dessa negligência acometida contra os filhos dessa terra, os que tem o sonho e desejo de se libertar desses estribos, acabam se refugiando lugares a procura de algo maior, que de lá nunca viria. Deste modo, expulsos pelas condições desfavoráveis, somos jogados numa realidade diferente, que não estávamos preparados, com regras de trato social e valores bem particulares. Inseridos nesse contexto, a dor e a solidão dos vínculos deixados nos torna pequenos numa selva de pedra.
Leva-se um choque diante do novo que se apresenta de duas maneiras distintas: a primeira é a montanha de oportunidades culturais que se aflora de todos os lados e em segundo contrapondo-se, a "violência" que se mostra feroz e nos faz amigos íntimos do medo, nosso companheiro inseparável, levando-nos a temer crianças, vítimas marginalizadas.
O problema é de tal ordem que estamos sujeitos ao encontro inevitável com a senhora do nosso destino a "morte", seja ela a nossa ou a de outrem ao dobrar a esquina ou vista de uma janela de ônibus, vendo o futuro de um homem, que minha lógica insiste, poderia ser o meu, no chão do asfalto e sua massa encefálica escorrendo e dele se esvaindo seus sonhos, seus ideais sua esperança.É essa as duas vias que nos deparamos ou ficar na "segurança" do pai com uma vida medíocre se arrastando e se humilhando por migalhas, salvo algumas exceções, ou a exposição ao perigo em detrimento da realização profissional, para uma vida melhor. E assim desperdiçar os talentos ao permitir que outros vão embora sem contribuir efetivamente para o desenvolvimento da cidade.
O CERU porta de saída dos jovens, embora pouco valorizada, tem melhor rendimento e qualificação profissional do que muitas escolas metropolitanas, logo os alunos dela provenientes estão em melhores condições, mas estão se evadindo para os grandes centros urbanos. Esse fato é muito importante porque comprova o empenho dos professores em ensinar com entusiasmo e competência e associado ao laço afetivo que todos têm com a escola, faz dela um referencial de São Vicente Férrer e motivo de orgulho.
Eu amo esta cidade, mas me odeio por não conseguir odiá-la pelas razões supracitados, pois as qualidades superam os defeitos. E as qualidades para mim se configuram nas pessoas (família, amigos, professores) que tiveram um papel fundamental para meu desenvolvimento e dos quais sem eles minha vida seria um vazio, pois contribuíram para moldar meu caráter e minha educação, portanto devo a cada um de modo diferente: meu amor, meu respeito e meu agradecimento.
Fonte: Cuca livre
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